terça-feira, 25 de abril de 2017

A DIVERSIDADE BIOLÓGICA ANGOLANA: FLORA DE ANGOLA



A DIVERSIDADE BIOLÓGICA ANGOLANA



III. FLORA DE ANGOLA

Angola possui florestas densas (video 1), coberturas descontínuas de arbustos  e ervas (video 2e vastas extensões desertas no Namibe (Video 3). Apresenta uma extensão florestal de aproximadamente 53 milhões de hectares, o que corresponde a 43.3% da sua superfície territorial. 
Video 1  - Floresta densa de Angola - Maiombe

Video 2 - Coberturas descontínuas de arbustos  e ervas  - Morro do Moco

Video 3 - Extensões Deserticas de Angola  - Deserto do Namibe


Segundo o IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), em 1992 existiam no país aproximadamente 8.000 espécies de plantas, das quais 1 260 são endémicas (o que torna Angola o segundo país de África com mais plantas endémicas)(Stuart & Adams, 1990; Moreira, I. 2006). Grande parte destas espécies encontram-se concentradas em regiões montanhosas a mais de 2000 m de altitude como é o caso do Morro do Moco na província do Huambo que detém a maior área remanescente da conhecida floresta afromontana em Angola, reduzida actualmente a um máximo de 200 ha (Olmos, et al. 2008).


Em 2009 foi apresentado um projeto que visou, efectuar o levantamento da flora de Angola, como parte de produzir uma lista florística. o estudo revelou que Angola tem um número total de 6.735 espécies nativas, e um total de flora vascular de 7.296 táxons (incluindo taxa naturalizado), dos quais 1.069 táxons (997 espécies e 72 táxons infraspecific) são endêmicas.

Angola possui plantações florestais de espécies exóticas, tais como Eucaliptos sp. e Pinus sp., numa área aproximada de 148.000 hectares, com um potencial estimado em pé de aproximadamente 17.450.000 m3, à média de 130 m3/hectare, o que permitiria teoricamente um corte anual de 850 mil metros cúbicos, depois de restauradas. 

A partir de 1993, foram estabelecidos vários polígonos florestais nas províncias do litoral e algumas do interior, em áreas consideradas críticas do ponto de vista da fragilidade dos seus
ecossistemas e onde a concentração populacional e a pressão sobre estes recursos foram notórios. Como consequência do período de instabilidade que o país viveu, estas plantações deixaram de ser exploradas e/ou cumprir o seu papel em conformidade com os seus objectivos, registando-se, em alguns casos, operações de desbaste e queimadas praticadas pelas populações circunvizinhas e agentes furtivos.



3.1. Eco-Regiões

O território Angolano está dividido em cinco principais eco-regiões:
  • Floresta Tropical de Baixa Altitude, ocorre no nordeste e é caracterizada por precipitações altas durante todo o ano, alta evaporação, e baixa fertilidade do solo;
  • Savana Húmida, ocupa cerca de 70% do território e é caracterizada por precipitações que variam entre 500 a 1.400 mm/ano na estação chuvosa e uma grande variedade de tipos de solos geralmente pobres em nutrientes;
  • Savana Seca, ocorre no Sudeste de Angola e é caracterizada por precipitação imprevisível que varia entre 500 e 250 mm/ano na estação chuvosa, solos geralmente férteis e vegetação escassa;
  • Nama-Karoo, ocorre no Sudeste de Angola e é caracterizada por uma precipitação media de 100 a 400 mm/ano, cerca de 60% ocorrendo na estação chuvosa;
  • Deserto, ocorre no Sudeste de Angola ao longo de uma estreita faixa costeira e é caracterizada por precipitação média muito baixa variando de 10 a 85 mm/ano.

3.2. Tipos de vegetação

Em Angola podem ser distinguidos pelo menos 30 tipos de vegetação (ver Figura 1).
Figura 1. Principais tipos de vegetação em Angola

Legenda da Figura 1 – Tipos de vegetação de Angola
1. Floresta de nevoeiros
2. Florestas húmidas semi-decíduas de baixa altitude
3. Floresta húmida de nevoeiro, semi-decídua
4. Floresta seca, densa, semi-decidua (em areias)
5. Mosaico de Floresta húmida densa, savanas e gramíneas
6. Mosaico deflorestas de galeria densas, matas e savanas de gramíneas
7. Mosaico de savanas de gramíneas
8. Mosaico de florestas dependentes da água; savana de gramíneas e Matagais arbustivos
9. Mosaico de Florestas semi-decíduas e deciduas e savanas secas de baixa altitude
10. Mosaico de Graminais mal drenados; savanas e floresta ribeirinha, nas areias do Kalahari
11. Mosaico de: Matagal arbustivo; savanas de gramíneas altas de média altitude
12. Mosaico semi-árido(em solos fersialíticos: entre o Rio Zaire e o Rio Dande
13. Mosaico de matagal de arbustos altos; mata: savana mal drenada
14. Mosaico de miombo degradado e savanas graminosas
15. Matas de miombo alto a médio (10-20 m) em areias de Kalahari
16. Miombo aberto
17A. Miombo aberto (10-20 m) com Brachystegia spiciformis var latifoliolata, Julbernardia
paniculata e B. longifolia com estrata graminal de Hyparrhenia)
17B. Miombo com de Brachystegia spiciformis var. latifoliolata, B. boehmii, Julbernardia
paniculata, e, por vezes maciços de Marquesia, Berlinia e Daniellia
18A. Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (principalmente a Sul do rio Keve)
18B. Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (entre os vales dos rios Keve e Kwanza)
19. Miombo mediano do planalto continental
20. Mosaico de Mata xérica (decídua); e savanas xéricas. .
21. Mata arbustiva mal drenada de Colophospermum em solos de barros (argilosos)
22. Mosaico de: (1) mata de baixo crescimento (2) savanas de gramíneas altas
23. Mosaico de savanas xéricas, Matagal arbustivo xérico e Matas de Adansonia
24. Mosaico de graminais mal drenados; e matas de miombo
25. Mosaico de Matas de Baikiaea; graminais mal drenados
26. Mosaico de savana de gramíneas altas; e matas de Adansonia-Sterculia em solos calcáreos (Baixa de Cassange)
27. Mosaico de matas arbustivas de Xerófitas; graminais anuais e mata de arbustos anões
28. Graminais anuais com manchas de Welwitschia. SW Namibe
29. Vegetação desértica, esporádia em dunas movediças: Tômbwa à Foz do Cunene
30. Prado palustre – Cyperus papyrus, etc
31. Graminais mal drenados nas areias do Kalahari
32. Prados de altitude ou “Anharas” (em solos ferralíticos e delgados)

3.3. Descrição detalhada dos principais tipos de vegetação  :

3.3.1. Florestas Fechadas

Os seguintes tipos de Florestas fechadas ocorrem em território angolano:
  • Floresta de nevoeiros, semprevirente (Gilbertiodendrum spp., Tetraberlinia spp., Librevillea spp.). Flora muito rica. Cabinda (por exemplo a floresta de Maiombe)
  • Florestas húmidas semi-decíduas de baixa altitude. Grossweilerodendron spp., Oxystigma spp. e Piptadeniastrum spp. NE do Zaire, NW Uige.
  • Floresta húmida de nevoeiro, semi-decídua. Em solos ferralíticos. (Ficus spp., Albizia spp., Morus spp.) Uige, Kwanza Norte, Kwanza Sul.
  • Floresta seca, densa, semi-decidua (em areias), Cryptosepalum exfoliatum, Brachystegia, Guibourtia etc. Alto Zambeze – Cazolho, Macondo
  • Mosaico de: (1) Floresta húmida densa (“Pachy”); (2) savanas de gramíneas. (1) Piptadeniastrum africanum, Boschia angolensis, (2) Hyparrhenia spp., Andropogon spp., Schyzachyrium spp.
  • Mosaico de: (1) florestas de galeria densas “Muxitos”,; (2) matas; (3) savanas de gramíneas. (1) Xylopia spp., Piptadeniastrum spp., (2) Marquesia spp., Pericopsis spp., (3) Hyparrhenia spp., Andropogon spp., E. Zaire, N. Uíje.
  • Mosaico de: (1) Tipo de vegetação 3; e (2) savanas de gramíneas. (2) Hyparrhenia spp. Panicum spp., Paspalum., Erythrina spp., Entadopsis spp., Piliostigma spp). Uige, Kwanza Norte, Kwanza Sul.
  • Mosaico de: (1) florestas dependentes da água; (2) savana de gramíneas; (3) Matagais arbustivos. (1) Allanbackia spp., Entandophrama spp., Homalium spp., Cyperus spp., Raphia spp., (2) Hyparrhenia spp., Andropogon spp., Adansonia spp. (3) Strychnos spp., Angraecum spp., Sanseveria spp.) NW Zaire
  • Mosaico de: (1) Florestas semi-decíduas e deciduas; (2) savanas secas de baixa altitude. (1) Ceiba spp., Bombax spp., Adansonia spp., (2) Hyparrhenia spp., Albizia spp., Piliostigma spp., Combretum spp.) NW Bengo, W Kwanza Sul.
  • Mosaico de: (1) Graminais mal drenados (“chanas de borracha”); (2) savanas; (3) floresta ribeirinha, nas areias do Kalahari. (1) Loudetia simplex, Landolphia spp., (2) Andropogon spp., Trachyopogn) Lunda Norte, Lunda Sul.
3.3.2. Mosaico de Matagal - Savana
  • Mosaico de: (1) Matagal arbustivo; (2) savanas de gramíneas altas de média altitude. (1&2) Annona spp., Combretum spp., Hymenocardia spp., Hyparrhenia spp., Andropogon spp., ). SW. Kwanza Norte, W. Malanje, N. Kwanza Sul.
  • Mosaico semi-árido (em solos fersialíticos: entre o Rio Zaire e o Rio Dande de: (1) matagal arbustivo; (2) savanas; graminal xérico de baixa altitude. (1) Crossopteryx spp., Adansonia spp., Heteropogon spp.) SE. Zaire, N. Bengo.
3.3.3. Florestas Abertas e Matagal
  • Mosaico de: (1) Matagal de arbustos altos; (2) mata: (3) savana mal drenada. (1) Croton spp., Combretum spp. (2) Baikiaea spp., Brachystegia spp., Julbernardia spp., (3) Themeda spp., Andropogon spp., Hyparrhenia spp.). S. Huila
  • Mosaico de: (1) miombo degradado; (2) savanas de Hyparrhenia. (1) Julbernardia spp., Brachystegia spp., (2) Hyparrhenia spp., Andropogon spp.).
  • Matas de miombo alto a médio (10-20m) em areias de Kalahari (Brachystegia spp., Marquesia spp., Julbernardia spp., Cryptosepalum, Pterocarpus spp. etc).
  • Miombo aberta (10-20m) com Brachystegia spiciformis var latifoliolata, Julbernardia paniculata e B. longifolia com estrata graminal de Hyparrhenia).
  • Miombo com de Brachystegia spiciformis var. latifoliolata, B. boehmii, Julbernardia paniculata, e, por vezes maciços de Marquesia e Berlinia
  • Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (principalmente a Sul do Rio Keve) – Brachystegia spiciformis, Julbernardia paniculata, etc.
  • Miombo e savana dos declives mesoplanálticos (entre os vales dos rios Queve e Kwanza) – Brachystegia spiciformis, B. wangermeeana (localizada) e B. boehmii.
  • Miombo mediano do planalto continental (em solos ferralíticos– Brachystegia spiciformis, B. floribunda, B. utilis. Cazombo, Calunda e Macondo
  • Mosaico de: (1) Mata xérica (decídua); e (2) savanas xéricas. (1) Colophospermum mopane, Boscia spp. (2) Schmidtia spp., Enneapogon spp.).
  • Mata arbustiva mal drenada de Colophospermum em solos de barros (argilosos).
  • Mosaico de: (1) mata de baixo crescimento (2) savanas de gramíneas altas. (1) Cochlospermum spp., Terminalia spp., Piliostigma spp., Albizia spp.).
3.3.4. Savanas com Árvores e/ou Arbustos
  • Mosaico de: (1) savanas xéricas (2) Matagal arbustivo xérico; (3) Matas de Adansonia. (1) Heteropogon spp., Schmidtia spp., (2) Strychnos spp., Dychrostachys spp., Combretum spp., (3) Adansonia spp., Sterculia spp. Em solos argilosos, com manchas arenosas: Ambrizete e Luanda.
  • Mosaico de: (1) graminais mal drenados; e (2) matas de miombo. (1) Loudetia simplex, Tratchypogon spp. Ctenium spp..
  • Mosaico de: (1) Matas de Baikiaea; (2) graminais mal drenados. (1) Baikiaea plurijuga, Diospyros spp. Combretum spp., Ricinodendron spp).
  • Mosaico de: (1) savana de gramíneas altas; e (2) matas de Adansonia-Sterculia em solos calcáreos (Baixa de Cassange).
3.3.5. Graminais
  • Mosaico de: (1) matas arbustivas de Xerófitas; (2) graminais anuais; (3) mata de arbustos anões. (1,2,3) Colophospermum spp., Acacia mellifera, Rhygozum spp., Welwitschia mirabilis. Aplanações sublitorais do Sul.
  • Graminais anuais com manchas de Welwitschia. SW Namibe
3.3.6. Deserto
  • Vegetação desértica, esporádica em dunas movediças: Tombua à Foz do Cunene) – Odyssea, Sporobolus.
3.3.7. Prados
  • Prado palustre – Cyperus papyrus, etc.
  • Graminais mal drenados nas areias do Kalahari. (Loudetia spp., eragrostis spp., Tristachya spp.).
  • Prados de altitude ou “Anharas” (em solos ferralíticos e delgados). Protea, Parinari, Syzygium, Stoebe, Helichrysum, Otenium, Fimbristylis.

3.4. Lacunas de informação sobre vegetação


Angola é o único país sul-africano em que um inventário da flora não tenha sido produzido até hoje. A falta de uma lista de verificação florística a nível nacional tem prejudicado seriamente a estimativa dos níveis de diversidade e endemismoe outras iniciativas orientada para conservação.


Uma das razões para esta lacuna no conhecimento da diversidade vegetal angolana é que, diferentemente da maioria dos países africanos, Angola  não foi incluído em qualquer um dos principais projetos Africano sobre a flora regional. Em vez disso, sua flora foi tratado separadamente nas publicações do Conspectus Florae Angolensis (CFA), que permanece incompleto (Exell & Mendonça, 1937, 1951, 1954, 1955; Exell & Fernandes 1962, 1966; Exell & al, 1970.; Schelpe & Al, 1977.; Fernandes, 1982; Diniz, 1993).

Faltam levantamentos actualizados que cubram os diferentes padrões de vegetação de Angola.

São igualmente necessários levantamentos para confirmar o estado de conservação de espécies como a Swartzia fistuloides (pau ferro), Dalbergia melanoxilum (pau preto) e outras espécies exploradas comercialmente.

A redução de habitats florestais, as elevadas taxas de deflorestamento e as queimadas descontroladas podem ser um factor de risco importante cuja dimensão é necessário estudar.


3.5. Espécies vegetais em risco

Os dados que a seguir se apresentam estão incluídos nas listas vermelhas da IUCN publicadas desde há 11 anos atrás e incluem as seguintes:

Fonte: Red Data List IUCN, 2004 ; (I) Inglês


3.6. Referências Bibliográficas

- Figueiredo, E. & Smith, G.F. 2008. Plants of Angola/Plantas de Angola. Disponível em:http://www.sanbi.org/sites/default/files/documents/documents/strelitzia-22-2008.pdf Acesso: 12 de Fevereiro de 2015
- Institucional Repository of the University of Pretoria (repository.up.ac.za.) The flora of Angola: first record of diversity and endemism. Disponível em: http://repository.up.ac.za/bitstream/handle/2263/14410/Figueiredo_Flora(2009).pdf?sequence=1 Acesso: 12 de Fevereiro de 2015
- Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e Ministério do Urbanismo e Ambiente. Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de Conservação. Disponível em: http://www.fao.org/forestry/15699-09d1109e2f4c272d5307ac26207cc07ae.pdf Acesso: 26 de Abril de 2017
- Ministério do Urbanismo e Ambiente de Angola. Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (NBSAP) 2007 - 2012. Disponível em: https://www.cbd.int/doc/world/ao/ao-nbsap-01-pt.pdf Acesso em: 26 de Maio de 2015
- Ministério do Urbanismo e Ambiente de Angola. Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica. Disponível em: https://www.cbd.int/doc/world/ao/ao-nr-01-pt.pdf      Acesso em: 26 de Maio de 2015  


segunda-feira, 24 de abril de 2017

A DIVERSIDADE BIOLÓGICA ANGOLANA: FAUNA TERRESTRE DE ANGOLA

A DIVERSIDADE BIOLÓGICA ANGOLANA

II. FAUNA ANGOLANA (Continuação...)

2.2. FAUNA TERRESTRE DE ANGOLA

A diversidade de fauna terrestre em Angola é notória (video 1). 

Assim no grupo dos mamíferosdiversidade é uma das mais ricas do continente, com 275 espécies registadas. Cerca de 900 espécies de avifauna estão catalogadas, com importância internacional para a conservação de aves. Quinze espécies de morcegos frutívoros estão catalogadas. Cerca de vinte espécies de anfíbios são endémicas. Vinte e seis espécies de antílopes ocorrem no país e dentre eles a palanca negra gigante, que só vive numa certa região de Angola. 

É de salientar que a diversidade da fauna angolana tem sido mais exaustivamente estudada do que os recursos botânicos do país, no entanto a maior parte do estudos, encontram – se relacionados com a componente vertebrados. A rica avifauna angolana foi catalogada 1963, com levantamentos actualizados em 1983 e 1988.

Video 1 - Animais de Angola

2.2.1. Mamíferos

A diversidade de mamíferos que abundam o país é uma das mais ricas do continente, com 275 espécies registadas. Cerca de 49 destes mamíferos estão em situação preocupante do ponto de vista da conservação.

Estudos escasseiam e é urgente realizar inventários taxonómicos e levantamentos actualizados sobre a situação de conservação. Os únicos estudos sistemáticos mais recentes estão relacionados com a palanca preta gigante, o manatim africano assim como algumas espécies da fauna e avifauna marinha de Angola.

Estudos taxonómicos mais recentes e levantamentos de distribuição ocorreram em 1988. Durante o período 1971-1975 realizou-se por todo o país um levantamento mais extensivo do estado de 80 espécies de mamíferos, apesar de estarem concentradas nas áreas protegidas. Já nessa época haviam poucas áreas de Angola com a abundância de fauna selvagem típica, dos países do leste da África Austral, no entanto, as populações nas zonas de conservação estavam a aumentar rapidamente.

Desde 1975, grande parte dos mamíferos de Angola tem sido severamente reduzida, senão
completamente eliminada. Um extermínio geral de elefantes, rinocerontes, gungas, palancas, guelengues do deserto, cabras de leque, golungos, nunces, songues, e de muitas outras espécies ocorreu em todos os parques e reservas. Possivelmente algumas manadas poderão ter sobrevivido o suficiente para se poderem recuperar se lhes for dada a protecção necessária, e eficiente. As populações de mamíferos, cuja carne não tem valor comercial, poderão não ter sido afectadas, outras espécies foram beneficiadas pelo desmoronamento das actividades agropecuárias e industriais, em particular das espécies que se encontram na floresta Guineo-Congolesa. Na realidade nenhuma espécie recebeu protecção desde 1975 e são poucos os dados disponíveis sobre o estado actual e sua distribuição.

Iremos nesta secção proceder a uma descrição da diversidade de cada uma das ordens que, em Angola, tem sido sujeitas a estudos e actualizações.

ORDEM PHOLIDOTA


O pangolim terrestre do Cabo é o único dos três pangolins que ocorrem em Angola que está inscrito na Lista Vermelha dos Mamíferos da UICN. Porém, a condição das duas outras espécies deve ser semelhante.


Lista das espécies da ordem dos pangolins de Angola





Lista dos primatas de Angola




Os carnívoros abundam nas zonas habitadas pelo herbívoros, porque estes são para eles a sua quase exclusiva alimentação (video 2 e 3). Existem em grande número o leão, o leopardo, a hiena , a raposa, o chacal e muitos outros.

Video 2impressionante ataque de leões em bufalo
Video 3impressionante ataque de leões em bufalo

Lista dos carnívoros de Angola



Video 4 - Mamiferos







2.2.1.2. Espécie sem informação

Não há informação nem do ponto de vista de levantamento nem de avaliação do estatuto de
conservação sobre os seguintes grupos:


  • Insectivora (ou insectívoros, que incluem toupeiras, ouriços e mussaranhos)
  • Macroscelidia (ou macroscelideos)
  • Chiroptera (ou quiroperos, os morcegos)
  • Scadentia (morcegos de cauda curta)
  • Rodentia (ou roedores, abrangendo os ratos, lebres, coelhos, esquilos, porcos-espinhos, etc)
  • Hyracoidea (embora se saiba que ocorram em Angola duas espécies, a Procavia capensis e Procavia welwitshichii)


Mesmo nos mamíferos de grande porte há falta de informação sobre o estado de conservação actual. Um exemplo é o elefante que em Angola ocorrem nas sub-espécies: a Loxodonta africana africana (Elefante da savana) e Loxodonta africana cyclotis (Elefante da Floresta). Os últimos dados sobre a sub-espécie da Savana são de 1975 e reportavam uma distribuição disseminada mas em parte alguma abundante. Nessa altura a população total estimava-se entre os 5.000 e os 10.000 animais, na sua maioria localizados na província do Cuando-Cubango.

No Parque Nacional da Kissama, a população de cerca de 800 elefantes existentes em 1975, foi reduzida a menos de 100 que se encontram concentrados ao longo do rio Kwanza. Na região Sul do país, existem relatos vindos da zona a sul da cidade de Cazombo (Província do Moxico), segundo os quais manadas ainda ocorriam no Parque Nacional do Bikuar. Há ainda relatos sobre a destruição de culturas efectuadas por estes na província do Cunene. Na área do rio Coporolo (província de Benguela), também foram observados elefantes.

É presumível a existência de alguns elefantes adaptados ao deserto (um raro ecotipo de Elefantes das savanas), na região sudoeste na província do Namibe. A província com maior distribuição calcula-se ser a do Cuando Cubango com relatos sobre insignificantes influxos de elefantes originários da Zãmbia, Namíbia e Botswana, devido a finalização da guerra.

Num reconhecimento aéreo preliminar efectuado pelo Dr. Hall Martin, fez-se uma contagem de 700 elefantes numa simples transcendência fazendo-se uma estimativa de que a população para toda a província deverá ser na ordem dos 10.000 elefantes. As estimativas de 1975 podem ter sido subestimadas, uma vez que está claro que o maior abate de elefantes para aproveitamento da carne e do marfim ocorreu durante os últimos 26 anos, sendo as estimativas de exportação de marfim da ordem das dezenas de toneladas.

Por exemplo, só em 1989 foram confiscados durante o transporte através da Namíbia, 6,8 toneladas de marfim que se crê ser de origem angolana. A exploração corrente continua a colocar sérias pressões sobre as populações de elefantes existentes (numa pequena cidade do Cuando-Cubango matavam-se dois elefantes por semana para fornecer carne). As medidas de gestão (que reconhecem que a maioria dos elefantes se encontram fora das áreas protegidas) terão de evoluir rapidamente.

Na região norte do país, floresta do Maiombe, ainda se julga existirem elefantes da floresta, mas há observações de elefantes nas florestas das províncias do Zaire, Uíge, Malanje e Kwanza Norte.

No que respeita ao rinoceronte preto os dados são os seguintes: em 1975 já era extremamente raro em todas as áreas de distribuição. Uma pequena população aparentemente estável de + 30 animais existia no Parque Nacional de Iona. Em áreas das vizinhanças, bem como de Tchimporo na província do Cunene, haviam relatos de existência de outros grupos também muito pequenos. De Luengue e do Mucusso, áreas situadas na província de Cuando-Cubango, relatava-se também a observação de outras populações, ao que parece de maior número. Todas estas populações devem provavelmente ter sido eliminadas durante a guerra.

Quanto ao rinoceronte branco os dados são igualmente preocupantes receando-se o pior apesar de registos não confirmados da sua ocorrência. Um grupo de 10 exemplares oriundos da Zululand foi introduzido no Parque Nacional da Kissama, em 1968. Em 1974 tinha-se observado a existência de uma cria. A população do Parque da Kissama foi aparentemente exterminada.

Faltam igualmente dados sobre as duas espécies de zebra, a Equus burchelli (Zebra da Planície) e a Equus zebra hartmannae, que se acredita poderem estar à beira da extinção. A girafa encontrava-se em 1975 numa situação crítica, actualmente quase extinta em Angola. Em tempos era numerosa no parque Nacional de Mupa, a população foi reduzida a menos de trinta animais até 1975, abandonando o parque regularmente para deambular em pequenos grupos na área de Tchimporo. Outra população também muito pequena tinha sido observada na área de Mucusso no extremo sudeste de Angola.


2.2.1.3. Espécies em risco

De acordo com a IUCN 50 das 275 espécies de mamíferos em Angola estão na Lista Vermelha. O que quer dizer que 18 em cada 100 espécies requerem especial atenção de conservação.

Desses 50 de espécies em risco cerca de 17 pertencem ao grupo dos morcegos (o que corresponde a 33 por cento). A situação mais grave parece ser a do Rinoceronte Preto classificado como Criticamente em risco (CR). O chimpanzé e o Gorila pertencem ao seguinte mais em risco (EN).

A categoria dos vulneráveis inclui seis dos quais a maior parte são felinos (chita, leão, fato dourado, gato de pés pretos) e ainda o manatim e o elefante.


Lista dos mamíferos em risco em Angola (dados da IUCN, 2004)

Fonte: Red Data List IUCN, 2004 ; (I) Inglês, por ausência de nomenclatura conhecida em português


2.2.2. Aves

A diversidade de aves em Angola é realmente incomparável no contexto da África Austral (video 5): 847 espécies para uma média de 319 para os restantes países da região. Esse elevado número de espécies torna Angola um dos pontos “quentes” do “bird watching”. Sabe-se que a guerra produziu efeitos nefastos neste património mas desconhecem-se dadosactualizados e que cubram o território nacional. Apesar de não se conhecer o estado de conservação da maior parte da avifauna a verdade é que este grupo é do que foi objecto de levantamentos mais extensos do ponto de vista taxonómico.   
            



Video 5 - Angola Aves - Avifauna                                                                                          
                                                                                       

Angola dá abrigo a várias espécies endémicas que constituem atracção para ornitologistas do mundo inteiro.

Espécies endémicas incluem as seguintes: Eupodotis rueppellii, Poicephalus ruepellii, Agapornis roseicollis, Apus bradfieldi, Phoeniculus damarensis, Tockus monteiri, Ammomanopsis grayi, Certhilauda benguelensis, Parus carpi, Turdoides gymnogenys, Lanioturdus torquatus, Francolinus griseostriatus, Francolinus swierstrai Colius castanotus, Tauraco erythrolophus, Melaenornis brunneus, Platysteira albifrons, Laniarius amboimensis, Malacanotus monteiri, Prionops gabela, Sheppardia gabela, Xenocopsychus ansorgei, Macrosphenus pulitzeri e Cinnyris ludovicensis.


2.2.2.1. Monte Moco - Aves

O Monte Moco tem uma avifauna muito diversa, com muitas espécies de interesse especial presentes. Poucos mamíferos permanecem na área, e ainda é necessário realizar levantamentos para outros grupos como plantas, répteis, anfíbios e invertebrados. 

O Monte Moco é reconhecido como uma Área Importante para as Aves (Dean 2000) e faz parte da única Área Endémica para as Aves de Angola (Sttatersfield et al. 1998). 

Foram registadas 234 espécies (lista aqui) na área proposta para a Reserva Especial do Monte Moco (Mills et al. em preparação). Para lá da diversidade elevada de aves, o Monte Moco tem várias espécies e sub-espécies endémicas de Angola e de populações de espécies de florestas de montanha isoladas por milhares de kilometros das populações mais próximas (Camarões, Malawi, Uganda). 

As espécies seguintes são particularmente interessantes:















2.2.2.1. Lacunas na informação

As aves de Angola foram sujeitas a levantamentos mais ou menos exaustivos do ponto de vista taxonómico e da distribuição por regiões e habitats. O que falta são inventários sobre a
condição de conservação. Angola é referida por associações ornitológicas como um “hot spot “ e pode, por isso, atrair especialistas internacionais que apoiem a realização destes inventários. Sabe-se muito pouco sobre espécies que carecem de urgente medidas de protecção. O Albatroz errante (Diodema exalanas). É uma das espécies mais em risco e sobre a qual há registos não sistematizados nas costas de Angola




2.2.2.1. Espécies em risco

Dados da IUCN revelam existir 34 espécies de aves em situação de risco.

Fonte: IUCN Red Data Lista, 2004; (I) – Inglês


2.2.3. Répteis Terrestres

A classe de répteis, inclui lagartos e cobras (Ordem Squamata), tartarugas (Ordem Chelonia), Jacarés e Crocodilos (Ordem Crocodilia).

O clima de Angola e suas principais características, é propício para a família de répteis tanto em espécies como em indivíduos, (tartarugas, lagartos, cobras e crocodilos). Os répteis ocupam grande variedade de habitats. As grandes jibóias, habitam nas florestas, nas galerias de floresta, e nas margens de grandes rios. Os crocodilianos, nos rios, nos riachos, lagos e lagoas. A maioria de tartarugas vive dentro ou próximo de água. O caso da tartaruga marinha, que habita desde a foz do rio Kwanza, até a foz do rio Longa, ou seja 120 km de extensão, identificadas, quatro espécies, que necessitam de proteção, nomeadamente: Dermochelys coriácea, Lepidochelys olivacea, Chelonya mydes, Caretta caretta. Estas espécies serão analisadas em secção própria quando se tratar dos organismos marinhos.

A terrapene habita o chão aberto das florestas e bosques. A maioria de lagartos e obras é terrestre, mas alguns sobem em rochas e árvores a procura de alimento que é o caso do camaleão (Chamaeleo chamaeleon) e do lagarto do género Agama atricollis (ganga, ou tschimbulo), inimigo das abelhas, habita em todo planalto central, e nas províncias e Moxico, Lundas, e Kuando-Kubango.

Diversas pressões ameaçam os répteis em Angola como, por exemplo, a urbanização, expansão de actividades agrícolas e industriais e, em particular, o comécio de peles de crocodilo e de grandes serpentes como a jibóia. O comércio de tartarugas, xtensamente vendidos como animais de estimação, principalmente em vários mercados da cidade, e Luanda e a venda de carapaças de tartarugas marinhas são outros importantes factores de ameaça.

2.2.3.1. Lacunas de informação

As informações sobre répteis de Angola são escassas, isoladas e desactualizadas. Organizações como a EarthTrends refere a existência de 227 espécies em Angola mas esses dados não foram senão estimados.

Espécies como a cobra listrada de vermelho e preto (Bothrophthalmus lineatus) possuem um estatuto indeterminado.


2.2.3.2. Espécies em risco

Espécies como o Crocodilo Anão (Osteolaemus tetraspis) são consideradas vulneráveis e estão incluídas na lista da CITES. Não se consideram aqui as tartarugas marinhas que se tratarão mais adiante.

Lista dos répteis terrestres em risco de conservação

2.2.4. Insectos

Não existem levantamentos sistemáticos do ponto de vista taxonómico nem do estado de conservação dos insectos que é o maior grupo dos animais do planeta. A importância deste grupo em termos de biodiversidade é enorme não apenas do ponto de vista biológico e ecológica mas também pelas relações que mantêm com a agricultura (na forma de pestes e, do seu factor antagónico, de combate biológico às pestes) e também na alimentação humana.
Estudos realizados apontam para a importância de uma variedade de insectos como fontes de
proteína animal, a saber:
  • A larva da borboleta Usta terpsichore (Satumiidae), conhecida localmente como olumbalala (plural, olombalala); 
  • A termiteMacrotermes subhyalinus, (conhecidas como “juinguna” na sua forma adulta, alada)
  • A larva da Rhynchophorus phoenicis; 
  • A larva da Imbrasia ertli (Saurniidae), conhecido por engu (singular) e ovungu (plural); 
  • A larva da Elaeis guineensis

Todos os autores são unanimes em reconhecer o alto valor nutritivo destes alimentos e pesquisa na região central e nortenha de Angola confirmam que este recurso pode ser um complemento alimentar em termos de gorduras e proteínas.

Autores como Wellman referem ainda as seguintes espécies que servem de alimentação humana:

I. Coleoptera
  • Buprestidae:
            - Chrysobothris fatalis Harold, larva
            - Psiloptera wellmani Kerremans, larva
            - Steraspis amplipennis Fabr., larva
            - Sternocera feldspathica White, larva
  • Cerambycidae
           - Zographus ferox Har.
  • Curculionidae
          - Rhynchophorus phoenicis Fabr., larva
  • Scarabaeidae
         - Camenta sp., larva

II. Isoptera
  • Termitidae
          - Macrotermes subhyalinus Rambur, adulto alado
          - Macrotermes subhyalinus, adulto alado

III. Lepidoptera
  • Saturniidae
          - Imbrasia ertli Rebel, larva
          - Usta terpsichore M. & W., larva

IV. Orthoptera
  • Acrididae (short-horned grasshoppers)
          - Schistocerca peregrinatoria Linn.
  • Gryllidae
          - Brachytrupes (= Brachytrypes) membranaceus

Não estão disponíveis dados sobre o estatuto de conservação de insectos de Angola.


3.6. Referências Bibliográficas

Ministério da Agricultura e do Desenvolvimento Rural e Ministério do Urbanismo e Ambiente. Política Nacional de Florestas, Fauna Selvagem e Áreas de Conservação. Disponível em: http://www.fao.org/forestry/15699-09d1109e2f4c272d5307ac26207cc07ae.pdf Acesso: 26 de Abril de 2017

Ministério do Urbanismo e Ambiente de Angola. Estratégia e Plano de Acção Nacionais para a Biodiversidade (NBSAP) 2007 - 2012. Disponível em: https://www.cbd.int/doc/world/ao/ao-nbsap-01-pt.pdf Acesso em: 26 de Maio de 2015


Ministério do Urbanismo e Ambiente de Angola. Primeiro Relatório Nacional para a Conferência das Partes da Convenção da Diversidade Biológica. Disponível em: https://www.cbd.int/doc/world/ao/ao-nr-01-pt.pdf      Acesso em: 26 de Maio de 2015  

MonteMoco.org. AvesDisponível em: http://www.mountmoco.org/zaves.htm Acesso em: 22 de Março de 2016




Material de Apoio

APRENDIZAGEM DE BOTÂNICA EM AMBIENTES NATURAIS